segunda-feira, setembro 28, 2009

futebol


Gente a vir de todo o lado
corres berrantes vendaval
é dia de encher o saco
fora da rotina habitual

come-se bebe-se
transgride-se
na ilusão de um tempo
a encobrir o tempo todo

parece doideira
falta de senso lucidez
muita cegueira
misturada a estupidez
mas não é

há segredos há medos
gritos entupidos
desejos reprimidos
agressividade

há paixão ausente
presente
vertida loucura
no calor da luta

há ódio encolhido
ali berrado
aos do outro lado
árbitros otários
inimigos necessários

o jogo anima desanima
chuta cabrão
golooooooo
grita-se
és o maior

o estádio agiganta-se
o som ensurdece
as bocas escancaram
as caras rebentam

logo depois
no lance a seguir
o “herói” hesita
enfraquece
perde a jogada
falha
logo se grita
“nódoa” “maricas”

gritos silêncios
insultos ameaças
do princípio ao fim

vitórias derrotas
potência impotência
guerra em paz
é o que um jogo de bola é

uns insultos apupos
asneiras gozadas
às vezes pesadas
a enervarem a tola

mas não passa disso

bem melhor esta guerra
a escoar frustração
que a guerra das armas
na devastação
de vidas ceifadas!

sábado, setembro 26, 2009

equilibrar


Tanta coisa para ver
que não havia
trabalho suplementar
para os sentidos
vozes vistas desafios
permanente novidade

hesito na escolha
não preciso com facilidade
o gosto o apetite
o que realmente quero
de verdade

ficar parado
no ontem saudosista
ido andado
ultrapassado
na actual velocidade …

ou ir por ir atrás do que aparece
da moda do último grito
onde a calma desaparece
as finanças somem
e o corpo fica aflito?

nem perder a razão
nem travar a novidade!

e se tal correria
deixar de ver por excessiva
a invasão da coisa boa
a solução para quase tudo

espírito ciência inovação
fortuna de cor de paladar
como nunca dantes se vira…

há só que equilibrar
velocidade com possibilidade
para não estragar
a onda fértil de ser
em saciedade!

quarta-feira, setembro 23, 2009

arruaceiros hoje


Às vezes a raiva tem mesmo que sair
qual pesadelo que se vive
noite longa
em que as pernas têm que correr
fugir
do medo próximo da besta
e encolhem
paralisam
perante a letal ameaça
sem reagir

ouço vozes gritos miseráveis
com trombetas arruaças
a soarem forte e feio
com o demo a emergir

no meu país que ajudei a libertar!

por incrível que pareça
é essa liberdade quem permite
que gente reles obscena
que já desgovernou este país
cresça se agigante e esteja aí

apetece perguntar á liberdade
que tanto custou a conquistar
porquê consente tanto insulto pessoal
e não o julga por ofensa
em tribunal?

há limites para tudo
em qualquer conduta…

que os que não tiveram medo
de enfrentar tiranos
e os expulsaram
por tantos danos
em tantos anos
ponham cobro a isto

que não se corra o risco
de perder-se o Portugal liberto!

quinta-feira, setembro 17, 2009

mal herdado de raiz


Ver só um lado da questão
peca por defeito
em cada situação
porque o julgamento feito
é fruto de copianço imitação
nunca de um trabalho livre
independente
adaptado ao presente

ainda lavra infelizmente
o orgulho o preconceito
de seguir-se o céptico o triste
o que só defeitos vê e aponta

azeda o queixume e paralisa
leva passos novos desafiantes
para lugares velhos
repetidos

esse mal herdado de raiz
o fado triste a cruz da vida
nunca a flor o amor o bom da vida
como bandeira a ser seguida

depois no AQUI nas contas feitas
são tantas as históricas desgraças
a maledicência por aceite
que mesmo os que querem
os que intentam

esbarram com um tal enredo
de mazelas de erros dados
outros incutidos inventados
que não há corpo nem saúde nele
que se aguente
ou se alevante

e qualquer novo entendimento
iluminado
(ser ousado diferente
querer ir mais longe)
arrisca-se como em tempo recuado
a ser levado para a fogueira

Visão maior


Capto dentro de mim
um eu uno universal
uma ligação maior
mais a ver com o tudo
o sempre
a origem do meu ser total
presença eu
fio condutor de espaço
tempo silêncio imenso

como fica pequenina a mente
com as suas opiniões
ilusões e julgamentos
sentindo assim intensamente
e sem esforço…

o entre os astros o entre estrelas
o vácuo nada
onde tudo cabe!

meu corpo maior presente
a ele ligado totalmente
mil vezes mais radiante
que todas as montagens
conjecturas
perpetradas pela mente

um agora ligado ao intemporal
ao todo existencial
onde o mundo das formas
em que funcionamos
e nos esgotamos…

não passa de um microcosmo
pequenino
onde egos lutam
pela posse
do finito
num planeta bolinha de menino

coisas de nada vistas do centro do infinito
que é o mesmo que dizer
vistas do fundo
do meu ser profundo
quando assim percepcionado

terça-feira, setembro 15, 2009

ansiedade e descontrole


Alturas há que nada pára a ansiedade
o fogo arder
o querer ser mais do que se é
ter mais do que se tem

aborrece o livro que se lê
farta a casa que se tem
o prazer que não se vê

muitas vezes sem se saber porquê!

quando assim é
há que ir fugir cumprir a ideia
que nos cega absorve
desconcentra inquieta apavora

energia a mais descontrolada
um grito a transbordar para fora
num dentro que não chega
por pequeno
em tal hora

mesmo que se queira
que se faça um esforço
que a consciência lhe dê atenção
paciência

até parece que quanto mais se tenta
pôr paciência
um pousar sensato a meditar
para suster tal impaciência

mais aquela força aumenta
incha cresce
nos atormenta
nos enlouquece

quarta-feira, setembro 09, 2009

mágua por curar


Ia insultar-te uma vez mais
violentamente
com aquelas palavras
que se guardam algures
no inconsciente

amargas porcas vergonhosas

sei que passei uma noite dos diabos
daquelas que a dormir
se cansa mais a gente
que acordados

que no duche um champô
sem qualidade
me causou uma tal ardência
ocular
que momentaneamente
e sem a toalha de banho á mão
perdi toda a paciência

sei que sempre o adeus me fez sofrer
chorar desanimar
por isso a dor a arder
por não te ter

mas amor não é poder
se te amei quando te tinha
porquê não te amar
por te não ter?

voltei atrás com a amarga decisão

mesmo em tão zangada condição
desta vez
não te insultei ave migrada!

amor é muito mais que posse
guerra
um rosário de cobranças e insultos
amor é um sentimento único
que não morre por profundo!

terça-feira, setembro 08, 2009

estar atento


Peço ao silêncio uma resposta
porque é nele
que qualquer ruído existe

aguardo com paciência
algo que venha
em forma de mensagem
que dê ao meu pedido
algum sentido

um carro ronca
um martelo bate
ouço o falar de uma pessoa
nas escadas do prédio
alguém que desce

eu espero crente no sucesso
de que num tão grande espaço
onde tudo cabe
as estrelas os planetas
nebulosas
coisas grandes e pequenas
um brilho e um calor de tanto fogo
tanta matéria tanto peso

nessa imensidão que tudo acolhe
nesse silêncio
de onde o ruído brota…

vou estar atento
para o sinal
o tempo breve
que ele há-de dar
á resposta que lhe peço

paixão e sofrimento


Cuidei rebentar por não te ter
por depender de ti
esperei esperei
enfim chegaste
para apagar o fogo em mim
a arder

amei explodi gostei

um pedaço de céu um êxtase
fugaz por sempre pouco
depois o fim

com o amor paixão é assim
porque logo a seguir àquele momento
fica a separação em mim
do meu ser metade incompleto
que leva sempre a depender
de alguém em sofrimento
por esse alguém ser o complemento

és o êxtase mulher o fogo que completa
reconheço
mas sei passar sem ti se não estiveres
porque aprendi
que o dentro de mim ninguém o leva

tenho agora esse amor em sintonia
com algo maior que a simples forma
de um corpo belo de mulher
por companhia

se não estiveres
aceitarei isso porque é assim
conviverei com o que tenho
metade
poupar-me-ei enfim à ilusão
ao vício
da mulher paixão totalidade

domingo, setembro 06, 2009

Domingo na cidade


Deliciava-me em passeio de domingo
com coisas pormenores
que fogem á rotina
pela labuta pela pressa
correria ininterrupta
azáfama diária de uma cidade como esta

uma atenção punha-a no que via
outra nos pés do chão incerto
que descia

mal vi um táxi parar na fina rua
bem pertinho a travar
que me fez entrar em vão de escada
para dar lugar á exígua rua
ao carro enorme
que no pequeno espaço agigantava

na frente dele
uma pomba desengonçada
em vias de ser atropelada
essa a razão porque o táxi travara

logo colaborei na situação
enxotando a ave com denodo
aplicação

de tal forma lhe berrava
(à pomba)
gesticulava
que de turista manso de domingo
passei a parecer a quem me visse
um soldado bravo
um lutador apaixonado

ela afastava-se do perigo
caminhava
depois não
voltava
como a colaborar no sim à vida
depois desinteressada a dizer não

aquele táxi gigante não a assustava

apesar desta vez ficar a salvo
deu para entender que aquele ser
em forma de ave
preferia perecer

senti isso no olhar que não trocámos
no penoso esforço que fazia
para se salvar

quando o tempo que o acaso reservou
aos intervenientes
acabou…

eu continuei meu passeio de turista
o táxi desapareceu rumo á avenida
a pomba lá ficou
para já viva!

sexta-feira, setembro 04, 2009

aves agoirentas


Aves agoirentas fantasmas do passado
país habituado a lamúrias mais lamúrias
povo bravo sem merecer um tal castigo

querem-no medir por baixo
só ver feridas
descobri-las nem que estejam escondidas
fazer delas um pérfido estandarte

quando há dor e onde a há
há que a cuidar com devido tratamento
não a aproveitar
para ser rei de barriga cheia
usando e abusando de um povo em sofrimento

pobres e analfabetos
nos chamam políticos ineptos
a tantos de nós perdidos na lonjura
no pouco acesso herdado
à cultura
na pouca obra ousada
por eles legada

ingenuamente em vez de pedirmos contas
a tais senhores
pelas afrontas
acreditamos ser piores

procuramos nos outros que encontraram
o que há também em nós e não achamos

e emigramos

deixem o leme arautos da desgraça
curem vosso mal herdado de raiz
de um país entendido por sem graça
e sem qualquer merecimento

e que os que gostam dele e que acreditam
o reponham grande como ele é

rectangular insular europeu atlântico
equilibrado
Portugal aberto dado modernizado
habitado por tal gente
que povoou ilhas continentes
e que em meu entendimento
é o centro geográfico do mundo

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...