segunda-feira, abril 27, 2009

olhos virtuais


Que valem teus olhos virtuais
no dia a dia
de quem vê mal ao perto
e tem imaginação a mais?

lá fora na vida real
a crise aperta
há capital a menos
onde parecia haver capital a mais

por todo o lado falta alguma coisa
sabe-se pelos noticiários
falta paz abrigo
ver no dia a dia um sentido

são as voltas do destino
as venturas e agruras que se tem
na Terra nave espacial
que nos sustém
seja no Peru ou no Japão
na China em Portugal
no Sri Lanka
(ex-ilha de Ceilão)

por isso ficar nos teus olhos virtuais
pode ser pouco
ser ridículo
um consumo de tempo estéril
sem objectivo
num tempo agitado
que até custa estar parado

mas não

a vida real corre na mesma
leve ou dura
e a grande verdade
é que os teus olhos de céu
virtuais
são nela preciosa ajuda!

sábado, abril 25, 2009

sobre a crise ou depressão


cedo vi cultivar a terra
tratá-la amanhá-la
ser ela a fonte natural
de rendimento e de sustento

dinheiro havia pouco
ou não havia
mas a importância que isso tinha
não era a importância que hoje tem

era então mais importante
casa farta alimento
uma leira grão na eira
azeitona e uva no lagar

quase não havia distância
e o limite da vida
era logo ali
na capela das alminhas
na romaria da ermida

eram tempos esforçados
sem ganho e muita agrura
enxada vacas e mulas
arado cabras e porcos
cujo proveito daria
para um fato domingueiro

lembro este apontamento
hoje em tempo de cidade
sobre o tempo dos tostões
com uma certa piada

já que a crise instalada
em boa verdade
é a quebra de uns milhares
em milhões de triliões

ou seja …
só quebra de cobertura
para mais fartura

por isso…
deprimam-se com a depressão
cultivem a preocupação

mas se pensarem bem
se se lembrarem do antes
mesmo em quebra de fartura
só a rima se mantém!

tostões milhões triliões
que o resto…

não tem comparação

é como a noite e o dia
é como o nada e o tudo
é como a falta e a sobra
é como a pobreza e o luxo!

quarta-feira, abril 22, 2009

mais fácil ser queixinhas


É mais fácil ser queixinhas
gritar aos quatro ventos
que não se é capaz
que se é pequeno enfezado doente
inventar motivos de sobra
para fraquejar ser indolente

depois são os ais do desespero
da desculpa
o confundir do seu lugar
com o lugar dos outros

a inveja a intriga a cobiça
a desculpar um melhor entendimento
de seu real talento
só possível na queixinha
não no ânimo no alento

é que nem todos podem ser o presidente
o director o rei o milionário
no enquadramento global
o que é natural

melhor
todos queremos certamente
porque a vida nasce
na crença não na descrença
com cada um no lugar que lhe acontece

desse lugar só acreditando se vai lá
tentando persistindo afinando o leme
na aventura que a vida é

baixar os braços a qualquer contrariedade?
ficar a chorar saudosismos de outra idade?
á espera que abra o que já fechou?

nem se pode caminhar parado
nem fazer um caminho que já se andou

como pode o imobilismo o derrotismo
(onda negativa que conspira
contra quem caminha)
gerar riqueza prosperidade?

como pode sendo-se inteligente
afirmar que tudo está como dantes
que a televisão ainda é a preto e branco
que a liberdade não existe
nem melhores comunicações
que não há mais carros aviões
estações espaciais computadores
dinheiro e pessoas a circularem aos milhões?

só quem quer fazer de Portugal apeadeiro
uma estação secundária
de um qualquer lugarejo exótico
pode viver tais mentiras afirmações!

onde estão pousados os olhos de tal gente?

no meu país actual
Europa continente
de certeza que não é!

domingo, abril 19, 2009

críticos avulso


O problema em si não é o problema
é tão só uma proposta
de acção
versus inacção
para o enfrentar

há muita conversa de café
de disse que disse
de crítica barata
pouca a acção na resolução
no equacionar em atitude
o cerne da questão
e atacá-lo

inteligência zipada convencida
perdida
no brilho da voz
na tertúlia da prosápia
impressionando amigos
com chacotas eloquências
trocadilhos

que no terreno
na locação da necessidade
ninguém lá vai
ao sítio
á mão estendida á obra por cumprir

somente a colocação da voz
o nó da gravata
o estilo do contra
vestido em roupas de marca
e ordenados de arromba

faça-se o que se fizer
é melhor fazer alguma coisa
do que ficar comodamente
a criticar quem faz
pura e simplesmente

há cada vez mais gente
a compreender isto

e quanto mais se elevar
o nível pessoal de entendimento
menos lugar haverá
para críticos avulso
pseudo-intelectuais
que com tantos rococós
números de sapiência teórica livresca
malabarismos de retórica

em vez de ajudarem quem faz
só desajudam

sábado, abril 18, 2009

férias loucas em Cuba


“férias loucas em Cuba “
acabo eu de ler
notícia referente
a menina jovem acabada de nascer
actriz mediatizada
do panorama cultural português

se alguém falasse assim
há alguns anos
espatifar dinheiro
em profundo gozo
no sagrado chão cubano
(vil nobreza detestada burguesia)
o que lhe aconteceria?

prova provada de que a revolução falhou
a velocidade do mundo aumentou
e pregar ideais moralidade
foi-se desandou

já não dá sermão antigo
em paróquia mediática global

hoje não se anda voa-se
não basta largar lindas palavras
no café ou no altar
para reinar

e qualquer “revolução” que apareça
ou muda e se adapta aos novos apetites
chamarizes da notícia
gozo ostentação trivialidade
promessa de dinheiro paraíso

ou ficará pobre isolada
sem os cartolas
da notícia mundial
os colunáveis fulanos de tal

e revolução sem cheta e sem se falar dela
a breve prazo ficará abjecta

sexta-feira, abril 17, 2009

dialogar sempre


Dialogar sempre
para a relação ter êxito
tanto quanto se possa
ser verdadeiro
falar de si dos seus anseios
sem tabus

só assim em abertura
se podem esbater diluir
esclarecer muitos receios

quando um medo se faz luz
se compreende
o alívio vem em paz que cura
a falta de confiança

o que parecia intransponível
fechado sem saída
fica fácil possível
ultrapassado

a barreira da dúvida é vencida

o descrente de antes
quando era desconfiança
medo
depois de instalada a confiança
no partilhar cada segredo

fica amigo
mais amante
mais sólido
mais suave

tolerante!

realidade a menos aparência a mais


Meras projecções
completamente desligadas
do real
que assimilamos
como se fossem correspondências exactas
das construções intelectuais
que temos

armazenamos muita informação
desde pequenos
depois olhamos
e o que vemos
associamos a qualquer coisa
que supostamente vem
de ensinamentos observações
sonhos contos
tradições
filtros a mais
suposições
em que afundamos

raramente percepcionamos
o que verdadeiramente é

daí tantas distorções
medos confusões
em vez de vermos
preto e branco
e lhe chamarmos só
preto e branco…

não

vemos qualquer outra coisa
que não está lá
ampliamos
diminuímos confundimos associamos
complicamos

são imagens a mais que armazenamos
suposições feitas de equívocos
presunções

ou seja

realidade a menos aparência a mais!

segunda-feira, abril 13, 2009

de que serve ser dor


De que serve ser dor
ser pessimismo
matraquear teclas de bolor
de um piano velho
que desafinou já
ou está a desafinar?

se ficar na dor aumenta a dor
se ficar triste
no mínimo deixa de comer
por falta de apetite
e se assim continuar
talvez acabe por morrer

o que faz sentido é tratar a dor
remediá-la
dar-lhe conforto
pôr-lhe amor
nova recarga
renová-la transformá-la

sair do incómodo que a dor causa
e viver

receba a onda do seu tempo
sinta-a afine-se com ela
alegre-se na alegria do momento
cante dance sinta grite
desafie-se inebrie-se
deixe a vida fazer o resto

cuidá-la acarinhá-la alimentá-la

num acto decidido e de mudança
troque as notas do piano velho
irritante gasto bafiento desafinado
pelo piano novo radiante
seu
com a música perfeita que merece

sábado, abril 11, 2009

a vida que tu queres


Pedes-me que te diga
que te fale
que te indique o melhor caminho
e vejo que o fazes
de uma maneira aflita crispada
temerosa

vendo-te assim
e porque sou teu amigo
ouço-te penso medito
e transmito-te o que sei
e o que sinto

o teu ar ansioso triste
abranda por instantes
concentras-te nas palavras que profiro

eu acredito
que no maior medo
na maior fogueira
é possível lançar um pouco de água
de terra de poeira
desincentivar dessa maneira
a chama que o incendeia

porém o fogo é grande extenso
as frentes reacendem
por todo o lado
e as palavras que te disse
quando as lancei quando as ouviste
provocaram calma adormecendo o monstro

mas foi sol de pouca dura
foi enganosa a serenidade

depressa percebi
que pedes para te dizer
para te ensinar
para te apontar
o melhor caminho para ti
a melhor resposta para os medos
que te assustam

mas afinal o que tu queres
é ser mimada consolada
quando a dor aperta
para logo após
mandares tudo à fava
e continuares…

queixosa vítima entediada
nessa vida que te mói
que te fere
que te mata
mas que afinal de contas é
a vida que tu queres!

vila simples bucólica


Vila simples bucólica
isolada fria histórica
com actividades só campestres
rudes fechadas de horizonte

eu pequenino a crescer nela

a rua de regresso a casa
única
era empedrada estreita
triste na cor no odor
pobre analfabeta
baba ranho e aguardente
naquele jeito xaile e lenço
preto e branco

e o medo que eu sentia ao passar nela!

os cães regressados dos campos
habituados a lobos e a guardar gados
ladravam-me ao passar

eram tempos meus de muito perigo
e pouca escolha

terra como eu só e abandonada

as pedras os barrocais
a torre em sinistro cemitério
as muralhas poligonais
silenciosas
a igreja velha
com cheiro a santos carunchosos

era pouco para uma criança curiosa
transpirando pelos poros
ainda finos
fome de horizonte
de amor de vida de oportunidade

cheguei a querer só brincar naquela idade
para alienar-me
por achar tão pouco a realidade!

daí o valor que hoje dou
ás avenidas largas
ao traçado de auto-estradas
ás vias de entrada e de saída
multiplicadas
aos aeroportos aos aviões
aos projectos ambiciosos
novas soluções

á gente viva que mexe que se agita
em muitas direcções
que é mais culta mais bonita

á cor das flores do século XXI!

quarta-feira, abril 08, 2009

fartura causa perturbação


Fartura causa perturbação
na escolha na solução
há muita coisa nova
vinda a toda a velocidade
de todos os lados
expectativas para os egos
que quase já não dormem
por baralhados

o presente do produto
mais recente
a ficar logo passado

até parece olhando assim
que fartura é desgraça
praga
um tremendo risco
desta época modernaça

acompanhar isto
a esta alta velocidade
fica impossível
e a desistência para muitos
é imperativa necessidade

nunca foi humano tudo ter
tudo saber tudo acompanhar
mas em vez de nos perturbar
tanta abundância…

gostemos dela

sempre houve muitos caminhos
muitas encruzilhadas
e se hoje há mais…

pergunto

será mau ter mais caminhos
direcções
opções aos milhares aos milhões
para os sentidos?

segunda-feira, abril 06, 2009

devia ser mais fácil


Devia ser mais fácil natural
o abastecimento de energia
pelo toque pela química
por intuitiva empatia

assim tudo mais dado
aberto simplificado

mas não

há o empregado o patrão
o soldado o capitão
o mestre o aprendiz
o rico o pobre
o bem vestido o maltrapilho
o que faz leis
o que as não cumpre

e com tantos escalões
diferenças de galões
aumentam as distâncias
e o calor que se tem
fica mais frio
nos impossíveis das urgências

como que se perde
pelo menos por enquanto
o melhor das religiões
o amor o afecto o toque
que quando é generoso e apetece
esse é o sítio bom
o éden
onde a vida se abastece

queria que tudo funcionasse
mais como o tempo em movimento

mas não

triunfam hierarquias de outra idade
que servem de travão
às necessidades novas
ao fluxo
ao néctar
ao progresso
à novidade

portugal sul em azul claro


É manhã
Portugal sul Abril
em azul claro

apetece tocar beijar
as bravias flores multicores
quase sem altura
as figueiras pequeninas
colando as folhas ao chão
por necessidade de alimentação
e cujo tamanho
em pouco ultrapassa a minha cintura

apetece seguir cada carreiro
na falésia grande
apenas separada do mar atlântico
por línguas de areia onde
se desnudam corpos escaldantes
(flores brancas em bronze
vindas de longe)

o sol aquece a praia
descobre a vida
dá-lhe magia fantasia
põe sonho onde por vezes
só pesadelo havia

mas são ciclos de vida breves
flores reais só passageiras!

mal se mostram
logo murcham desaparecem
e a noite acaba por cair
no mesmo chão
que ora é quente
cor beijos fruto infinito
ora entristece desaparece
muda arrefece

fica no espaço florido
um espaço deserto
onde os passos lestos inspirados apaixonados
se tornam pesados frouxos
arrastados
sem motivo para se animarem
na noite longa que sucede
a cada adeus
a cada ciclo

dia tantos de tal
Abril em Portugal
não o será jamais!

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