domingo, março 09, 2008

raiva por sair

Passei à tua porta como combinado
tu não estavas
toquei uma vez à campaínha
toquei duas três nada bulia
o prédio enorme em zona florescente
com andaimes gruas obras gente
tudo ficou como eu estava
vazio morto

toquei uma quarta vez ainda
porque não tinha coragem
nem força
nem herança cultural
que me levasse a arrombar a porta
desisti assim de saber se estavas
ou se não estavas

desci no elevador e parecia
que lá fora
tudo estava suspenso
tenso
eu não via o movimento
nem o movimento me via a mim

subi uma pequena escadaria
que me levaria ao parque de estacionamento
"puta de vida"
pensava eu na raiva por sair
naqueles degraus enquanto subia

a desistência a rejeição a falta de rumo
um silêncio tamanho
que só se aguenta por educação
por decência
porque me ensinaram que é feio fazer tristes figuras

mas era tal a força tensa do silêncio
ao transpor os últimos degraus
que a natureza atenta não aguentou mais
e não aceitou a minha desistência
arranjou um forte vento
uma chuva intensa

o meu corpo nestas situações corre por reflexo
então correu
alcançando o parque depois o carro estacionado
o vento e a chuva fortes prenderam-me a atenção
retomei com a força dos elementos
o contacto com o movimento

já via gente que fugia
que corria
carros que passavam uma porta que batia
um guarda chuva esfarrapado
que voava

meio atordoado
liguei a ignição do carro bruscamente
e sem olhar para trás
entretido pela tempestade
retomei velozmente
o caminho que melhor conheço

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