segunda-feira, dezembro 24, 2007

Feliz Natal

Deusa musa mulher
que eu bem punha
na minha árvore de Natal
luz ou doce

a quem eu chamaria sem querer
chocolate perfume mel
ou estrela brilhante ofuscante
deusa guia fada

a quem eu pediria
o meu presente mais querido
apetecido
sem sequer falar

porque ela
deusa fada luz ou mel
com mágica e doçura entenderia
o que eu queria

no meu olhar

sexta-feira, dezembro 21, 2007

e que tudo se lixe

Quero não me importar
não ligar ao que é feio de ver
e simplesmente estar

abranger a proximidade
a paz o deleite
sentir mais do que pensar
ver ouvir falar

mas quero agir ao mesmo tempo
estar atento
não ficar indiferente
ao complexo evoluir do mundo

porém quando transito
e dou o passo nesse sentido
é quando sinto realmente o choque
o bater mais do coração inquieto
a dúvida o stress

é quando mais me questiono
sobre o certo e o errado
ou se há certo
se há errado

se mais vale ir na confusão
do mundo caótico
e achar respostas

se me deixe ficar
em confortável mansidão
sem me importar

e que tudo se lixe

agradecimento

Tantas pessoas
animais plantas
sítios de experiências bem diferentes
que deram sentido à minha vida

quando nasci fui amparado
cuidado alimentado
depois cresci
fui posto à prova
sempre sempre
resisti

invernos rigorosos
noites bem escuras
com os ramos das árvores esperneando
assustando também quando roçavam
a solidão da casa onde morava

nada era fácil
e o desafio era sempre o passo próximo

em um mundo tão imenso
senti-me sempre pequenino
capaz de perecer numa qualquer dificuldade
numa rixa de feira
com gritos alaridos e facadas

numa enfermidade

ou no adeus quando eu partia
ou quando alguém partia

mas cheguei aonde era para chegar

AQUI

e não chegaria
sem todas as gentes sem excepção
os animais as experiências
os sítios todos
que guardo bem guardados
no meu coração

segunda-feira, dezembro 17, 2007

ganhar e perder

Ganho às vezes outras perco
nunca se ganha sempre
nunca se perde sempre

como a vida é bipolar
o jogo tem os dois lados
um vai ganhar
o outro perder

celebro a vitória efusivamente
aproveito para carregar
a bateria que pode descarregar
no próximo embate

gero assim um equilíbrio

energia positiva
que compensa a negativa
os excessos da vitória
os amargos da derrota

até compreender que afinal
ganhar e perder
faz parte do carácter bipolar
da vida
e é normal

é como dar receber
animar desanimar
aplaudir assobiar
viver morrer
rir chorar

com tantos lados opostos
em tudo o que acontece
para se aguentar...
é forçoso equilibrar

Portugal marca global


Pode ser uma imagem pessoal
ou uma imagem nacional
século novo mediatismo
grandes fontes de receita
produtos e mais produtos

até o nosso Portugal
se pensarmos futebol
se pode considerar
uma marca global
como uma família real
um caso policial um escândalo social

depois é só apurar requintar
a história o drama
o público anima o assunto prende
e vende vende...

mesmo produto banal
se bem trabalhado
pode virar sucesso mundial
um campeão de vendas
assídua notícia de telejornal

porque o que importa
é o êxito financeiro
a prosperidade
pelo adeus já aceite
ao preconceito velho
honra orgulho de outra idade

de nada serve só glória antiga
porque as armas e os barões
de agora
não são as armas e os barões
de outrora

sexta-feira, dezembro 14, 2007

impulsos reprimidos

Tantas palavras que se calam
impulsos reprimidos
tanto sim que fica por sair

e voam frases em diálogo
queixumes dúvidas
respostas a perguntas
perguntas sem resposta

o ar quase explode
com o som a intensidade
com que se cruzam as frases

vão e vêm pingue pongue
eu e tu com tanto que dizer
com tanto sim cheio de medo
que fica nos conceitos
nos disparos inúteis pólvora seca

e as palavras amontoam-se na ansiedade
seca-se a boca
esgota-se na falta de tempo
a oportunidade

pôr do sol desconhecido
meu interior que hei-de fazer?
tanto respeito tanta dor tanto pudor
e eu sem saber
o que hei-de fazer comigo

só posso pedir desculpa
à parte de mim que tanto quer
por não ter resposta para dar
e ser tão pouco

parece...

Parece que fico indiferente
mas nunca fico indiferente

que corro que fujo
mas ninguém como eu
mesmo a fugir
fica sempre tão presente

parece que não ligo
e que me esqueço
mas eu ligo
e nunca me esqueço

parece que não falo
que me calo
mas meus lábios fechados
mesmo calados
estão sempre a falar

parece que não amo
a quem me vê do exterior
mas se alguém pudesse
me abrisse
e me visse o interior

só encontraria dentro
em ouro fogo arrebatador
uma palavra escrita
que me devora

AMOR

quinta-feira, dezembro 13, 2007

o predador justifica a presa

Ontem passava vindo de um ginásio
frente a uma famosa "boîte"
predominava o fato e a gravata
carros de luxo meninas caras
daquelas que fazem a vida do ego
parecer ter algum conforto

o predador justifica a presa
a presa o predador

eu caminhava cansado
mas descontraido relaxado

e ao olhar para lá pensava
que ali há copos
risadas anedotas
sexo galhofa
eu sei que há
um intervalo até na vida que se esquece

mas felicidade haverá?

reparei que o porteiro aprumado
em ar solene condizente com as personalidades que recebe
firme composto aperaltado
quando passei na minha camisa arregaçada
descomposta no transpirado do pescoço
passeou por mim um tal olhar de enjoo
por me ver mal andrajado

que naquele ambiente luxuoso
requintado
de porta de "boîte" chique
tresandando a nojo
eu que já não me questionava havia um tempo
voltei a questionar-me

senti-me solidário de repente
com o homem roto esfarrapado
anónimo
que dormia escancarado
ao frio da noite
numa soleira de porta logo adiante

pede-me o instinto

Pede-me o instinto
para olhar para mim

dar atenção a cada pormenor
esquecer tabus
sentir o oceano que sou
amordaçado

quando quero abraçar
e encolho os braços
quando quero voar
e encolho o coração
e as asas

em vez de ser eu
ousar
dizer a cada não
gravado em mim
que vire sim

que grite
que se expanda
que se afirme

porque não há nada pior
mas mesmo nada
do que estar vivo por fora
e morto por dentro

quarta-feira, dezembro 12, 2007

a ilusão maior

Manter aqui onde me sento
onde me aceito tanto quanto posso
ao ritmo do momento
a ilusão maior

é ir contra o que acontece realmente
o aconselhável
é sair do esgravatar constante
do encontrar a solução actual

mas às vezes fica tão pesado
o ciclo vital tão fechado
o dia com tão pouco dia
e tanta noite

que rebobinar a vida
para encontrar um instante lindo
faz bem
onde se beba verão
a fantasia escaldante em boa companhia

com gestos perfeitos
tendo tudo num pequeno espaço
amor futuro
o embalo dos pássaros
a companhia das vozes do campo
e um caminho de vinhas e arbustos
(onde mal se cabia)
mas onde a dois se percebia
a totalidade do sonho que a vida seria

fica menos pesado o ritmo dos passos
o ocaso prometido
o fim da estrada

porque em fantasia tudo pode acontecer
verdade não verdade
viver-se reviver-se cor de rosa
ir voltar agarrar correr brincar beijar
delirar abraçado ao paraíso

pode-se fazer tudo o que a razão nega
ou qualquer planeamento aconselha

quinta-feira, dezembro 06, 2007

espiritual e mundano

A paz que sinto
interior silêncio sossegado
o quase conseguir
estar aqui sem estar
olhar ali sem quase ver

alterna com a agressão exterior
na mais inofensiva frase dita
no lugar que não procuro
e que me choca

introspectivo e manso
receptivo
passo a ser inquieto agressivo
confuso perdido

acho-me em mim
perco-me nos outros
ou vice-versa

sou espiritual e mundano
ao mesmo tempo
eu que quase me vi nascer
tanto que me canso
para me entender

quarta-feira, dezembro 05, 2007

simplesmente Jesus


Vinha sozinho
noite escura
(a solidão á cada vez mais a nossa companhia)
lembrei que à direita está Jesus
como me disseram em pequenino

olhei para lá não vi ninguém
e retomei desconsolado a mesma posição
não fosse estampar-me na primeira curva
mas apeteceu-me falar então falei
com Jesus à minha direita
que imaginei

com um companheiro assim quem não se sente bem
falar de nós fica tão simples
que me apeteceu fazer dele meu confidente

alguém me ouvia?

penso que não porque Jesus morreu de amores
e se estivesse ali dizia
porque as coisas que ele me ouvia
tinham só a ver com isso

que amar na vida é o melhor
que de amor se vive
de amor se morre

sentia-me feliz
a partilhar coração com coração
tristeza alegria e emoção
e lamentei o olhar triste de Jesus
quando por amor teve que morrer na cruz

eu uma pessoa pequenina disse-lhe que compreendia
eu por amor era capaz de morrer também

porque conheço o sofrimento
ofereci-lhe a partilha de algo de bom e feliz na minha vida
ingenuamente
algo que vertesse em rosa a sua dor
porque não é só pedir conforto e nada oferecer...

quem me dera naquele instante mudar a face triste
daquele lugar vazio à minha direita
devo-lhe tanto!

stress do dia a dia

Porque mereço eu isto?
porque estou tenso assim?
acaso não existe mais dentro
de mim
aquela criança que brincava
sem parar
que corria
que partia à descoberta
de tudo
o que se via e não se via
que desafiava o tempo
o espaço
e de qualquer coisa ria?
acaso não existe ainda?

amor total

Amar é evasão total
andar a gosto na enseada na avenida na calçada
sem sentir nada
e tudo sentir

de tal forma soltar olhos e ouvidos
que tudo pareça natural
a harmonia dos telhados
desenhados a espaços de andorinhas
o barulho tremendo do progresso
o som cantado e encantado de varinas

a surpresa do virar-se sem querer
a exclamação maravilhosa
ao raiar do sol amanhecer

bater palmas sem ninguém as merecer
tombar na relva sem reparar
e chegar a um qualquer entardecer
sem dar por isso

que bom seria
tudo a acontecer assim depressa e bem
a leveza espalharia em redor
por contágio de alegria
a paz o êxtase
o amor total

o mundo seria então uma criança

eu queria um amigo

Entendo e não entendo
quero e não quero
faço e não faço
fico e não fico
vou e não vou
amo e não amo
sou e não sou

fico sempre no princípio do resto
na dúvida
e esqueço mas não esqueço

um passo dado
parece errado
o mundo parece diferente do que faço

queria encontrar
o caminho certo
um lugar seguro

para começar
eu queria um amigo

vitória de Freud (ou a queda do muro de Berlim)


Por mais que me tentem convencer
que o muro caiu porque tinha que cair
que o ideal murchou naquela gente
que o papa polaco ajudou
que os avanços que havia eram só treta

tenho para mim
que o Freud
lá onde estiver
se deve rebolar com risos e chacota
disto que se diz

porque o muro caiu sim
mas pela abertura ao sexo
no ocidente
ao simples ao fácil
ao tudo ali à mão por dez tostões
à distância de uma prestação

as mulheres e os homens de leste
podem ser fixados
tristes
alienados
pelo cinzentismo dos capotes militares
por muitos anos de rigorosa planificação

mas atenção
alguém se esqueceu
que aqueles homens e mulheres não são capados
e foi então
que o grito de revolta soou

"abaixo o muro"

que era o mesmo que dizer
também queremos gajas nuas
sexo abertura
o mundo todo na mão
com uma modesta prestação

O Lenine não sabia nada de Freud
porque se soubesse
tinha posto outros símbolos na bandeira
mais brejeiros
não o trabalho compulsivo
e o sério da foice e do martelo

assim
perdeu a guerra nas partes baixas

apeou-se o muro
e fica o aviso aos senhores das revoluções
para a próxima que façam
não se esqueçam de ler Freud
se não
não há muro que resista
a tanta tentação

corpo mente e casamento

A resposta diferente
que encontram corpo e mente
no elo vivencial

é como num casamento
sem amor de ambas as partes
o que um quer o outro não quer
um diz sim
o outro diz não

sem encontro comunhão
nem um parco entendimento
aumenta o distanciamento
cresce a desunião

uma ligação fracassada
debaixo do mesmo tecto
uma vida desperdiçada

sofre o corpo
sofre a mente
afinal como no casamento
porque ali não há paixão

convinha estar atento
quando um já ganha avanço
o corpo é sempre mais lento
a mente mais inteligente

afiná-los é urgente
para salvar a união
evitar que um vá em frente
e o outro não

frágil e sozinha


De branco vestida
curtas roupas na cintura
no decote
no macio liso das perninhas
frágil e sozinha

num mundo intenso de consumo
rosa morango fome de comer
nesta solidão maior
de desejo de frescura
acicatado pela tv

também por sonhos de modelo
já se vê

que loucura menina
andares assim aqui
que risco desafio
que arrepio

há muita gente aqui
homens que passam
que olham para ti
que te desejam

lembras pintainho perdido
da ninhada de sua mãe

quem te apanhar assim
branca ingénua e verde
ou vai ficar doido de feliz
ou vai meter-se num sarilho
dos diabos

e meter-te a ti

avaria na rotunda do marquês

O meu carro avariou
na rotunda do marquês

com a sorte do meu lado
pois era a primeira vez que ficava empanado
ia já para uns pares de anos
fiquei como se fica
nestas situações
enervado

tudo a passar eu ali parado

entrava no carro saía
tentava acalmar não acalmava
até que uma jovem polícia apareceu
depois de outros agentes também aparecerem
solícitos cordiais
a perguntarem como estava

vinha de mota
e eu que já gostava de motas
depois de a ver
passei a gostar mais de polícias

descobriu num instante
coisas que eu não descobrira
pegou no triângulo que assinalava a ocorrência
que caíra
por mim mal encostado
à traseira do carro avariado
descobriu-lhe uma terceira aba
e colocou-o à distância certa

foi então que a rotunda virou ilha
eu era o náufrago e seguia
todos os movimentos dela
elegante eficiente imperturbável perturbante
deusa agente
indescritivelmente bela

até parecia como no imaginário
que na minha pele de náufrago
a barba me crescia
e os olhos ficavam esbugalhados

como não há bem que sempre dure
nem mal que nunca acabe
a linda mulher partiu
eu fiquei a olhar para ela

e um dia que parecia estragado
complicado pela avaria
acabou numa lição de cortesia
amor e simpatia
que deixou saudade

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