Nota breve do autor:
Em tempo de COVID19 e à medida que caminho nos meus poemas tentando descobrir pormenores neles, vou lendo coisas escritas de que por vezes já nem me lembrava.
Tantas palavras jorradas. Tantos pormenores, tantas realidades e ilusões diferentes. E por tudo o que vou passando, apenas colho, para o que pretendo, detalhes que possam ser isolados do todo, de um ou outro poema.
Todavia, tal recolha obriga-me a correr praticamente tudo. Um trabalho que não pensava fazer e que me está a obrigar a mergulhar numa parte de mim que é bem mais ampliada do que eu próprio imaginava.
Passei por este poema que hoje publico, que faz parte do livro "60 Poemas por ordem alfabética" e não resisti a publicá-lo aqui.
Tem muito que ver com os tempos que vivemos agora pelas razões de todos conhecidas.
https://www.bubok.pt/livros/3080/60-POEMAS-POR-ORDEM-ALFABETICA
Depressão
Que parado tudo fica
o tempo a alma a novidade
parece céu carregado
um bafo quente
tudo adiado
folhas paradas
sem pinga de vento
de qualquer quadrante
os animais acoitados calados
temerosos
à medida que a tensão aumenta
a natureza resolve um tal impasse
indecisão carga tensão
cruzando os ares de raios
trovoada
vertendo água em enxurrada
nas ruas nos campos com detritos
ás vezes cheias com estragos
deixando tudo de pantanas
depois passa
após a carga tensa densa
aliviada
os humanos não
atrofiamos complicamos
deprime-se no impasse
abrimos a boca não falamos
queremos sentir e não sentimos
queremos gritar e não gritamos
como que ficamos com o impasse
entalado nas vísceras nas entranhas
e quase endoidamos
normalmente a situação passa
porque algo acontece
e alivia a dor
um remédio uma ida ao médico
o cento e doze um amigo
uma terceira pessoa que aparece
que nos corta o sério
e nos conforta
só assim em nós o movimento
feito estático denso grave
desencrava desvanece perde força
enfraquece passa
sem se ficar naquele impasse naquela ameaça
uma quase loucura que aparece
grassa
e a dada altura até parece
querer instalar-se para sempre
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