terça-feira, dezembro 17, 2019

D. Dinis rei de Portugal, trovador, no blog



"Ai flores ai flores do verde pino". Esta é, seguramente, a mais conhecida cantiga de D. Dinis, e uma das mais célebres da Lírica Galego-Portuguesa. Com inteira justiça, poderemos dizer, já que se trata de uma composição que exemplifica, de forma notável, o modo como a arte trovadoresca é, por vezes, capaz de alcançar uma extraordinária profundidade de campo através da sábia conjugação dos recursos (aparentemente) mais simples e elementares.

(D. Dinis era filho de Afonso III de Portugal e de D. Beatriz de Castela. Nasceu em Lisboa, a 9 de Outubro de 1261. Morre em 1325)

- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?

       Ai Deus, e u é?
  
Ai flores, ai flores do verde ramo,
5se sabedes novas do meu amado?
       Ai Deus, e u é?
  
Se sabedes novas do meu amigo,

aquel que mentiu do que pôs conmigo?
       Ai Deus, e u é?
  
10Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
       Ai Deus, e u é?
  
- Vós me preguntades polo voss'amigo

 
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
15       Ai Deus, e u é?
  
- Vós me preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
       Ai Deus, e u é?
  
- E eu bem vos digo que é san'e vivo

20e será vosco ant'o prazo saído.
       Ai Deus, e u é?
  
- E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
       Ai Deus, e u é?


(Fica esta outra cantiga de D. Dinis)

A mia senhor que eu por mal de mi

vi e por mal daquestes olhos meus
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund'e muitas vezes Deus,


       des que a nom vi, nom er vi pesar

       d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
  

A que mi faz querer mal mi medês

e quantos amigos soía haver

e de[s]asperar de Deus, que mi pês,


pero mi tod'este mal faz sofrer,
       des que a nom vi, nom ar vi pesar
       d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
  
A por que mi quer este coraçom
sair de seu logar, e por que já


moir'e perdi o sem e a razom,
pero m'este mal fez e mais fará,
       des que a nom vi, nom ar vi pesar
       d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.

PS. Espero que gostem e se divirtam com estes recursos linguísticos aparentemente escassos de um dos nossos grandes trovadores: o rei D. Dinis. Pessoalmente aconselho, em particular quem gosta de poesia, a fazer uma viagem por estes trovadores portugueses, que são muitos e bons.

Fiquem bem,

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