Antero de Quental foi um poeta e filósofo do Romantismo, considerado um dos maiores sonetistas portugueses. Com apenas 16 anos, ingressou em Direito e foi estudar em Coimbra onde se destacou com seu brilhantismo. Interessado pela política, filosofia e literatura, Antero em 1862, com 20 anos, publicou seus primeiros sonetos intitulados “Sonetos de Antero”. Junto aos poetas portugueses Luís de Camões e Bocage (um de seus amigos íntimos) formou a tríade dos maiores sonetistas portugueses.
(Ao Sr. D. Nicolau Salmeron)
Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim
E, o que é mais, dentro de mim — que me rodeias
Com um nimbo de affectos e de ideas,
Que são o meu principio, meio e fim...
Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas comtigo e me passeias
Em regiões innominadas, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...
És um reflexo apenas da minha alma,
E em vez de te encarar com fronte calma,
Sobresalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te...
Falo-te, calas... calo, e vens attento...
És um pae, um irmão, e é um tormento
Ter-te a meu lado... és um tyranno, e adoro-te!
PS. Espero que apreciem estes sonetos de Antero de Quental, um dos maiores vultos das letras e da política portuguesas.
A um poeta
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
Transcendentalismo
(A J. P. Oliveira Martins)
Já socega, depois de tanta lucta,
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrario do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...
No sacrario do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...
Não é no vasto mundo — por immenso
Que ele pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...
LogosQue ele pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...
(Ao Sr. D. Nicolau Salmeron)
Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim
E, o que é mais, dentro de mim — que me rodeias
Com um nimbo de affectos e de ideas,
Que são o meu principio, meio e fim...
Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas comtigo e me passeias
Em regiões innominadas, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...
És um reflexo apenas da minha alma,
E em vez de te encarar com fronte calma,
Sobresalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te...
Falo-te, calas... calo, e vens attento...
És um pae, um irmão, e é um tormento
Ter-te a meu lado... és um tyranno, e adoro-te!
PS. Espero que apreciem estes sonetos de Antero de Quental, um dos maiores vultos das letras e da política portuguesas.
Fiquem bem,
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