quinta-feira, novembro 14, 2019

Antero de Quental, um cheirinho do sonetista apenas.

Antero de Quental foi um poeta e filósofo do Romantismo, considerado um dos maiores sonetistas portugueses. Com apenas 16 anos, ingressou em Direito e foi estudar em Coimbra onde se destacou com seu brilhantismo. Interessado pela política, filosofia e literatura, Antero em 1862, com 20 anos, publicou seus primeiros sonetos intitulados “Sonetos de Antero”. Junto aos poetas portugueses Luís de Camões e Bocage (um de seus amigos íntimos) formou a tríade dos maiores sonetistas portugueses.

A um poeta

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

Transcendentalismo

(A J. P. Oliveira Martins)
Já socega, depois de tanta lucta,
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrario do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...
Não é no vasto mundo — por immenso
Que ele pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...
Logos

(Ao Sr. D. Nicolau Salmeron)

Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim
E, o que é mais, dentro de mim — que me rodeias
Com um nimbo de affectos e de ideas,
Que são o meu principio, meio e fim...

Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas comtigo e me passeias
Em regiões innominadas, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...

És um reflexo apenas da minha alma,
E em vez de te encarar com fronte calma,
Sobresalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te...

Falo-te, calas... calo, e vens attento...
És um pae, um irmão, e é um tormento
Ter-te a meu lado... és um tyranno, e adoro-te!

PS. Espero que apreciem estes sonetos de Antero de Quental, um dos maiores vultos das letras e da política portuguesas.


Fiquem bem,

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