sábado, novembro 30, 2019

Miguel Torga no blog

Miguel Torga foi uma das figuras marcantes do nosso panorama literário. Nesta minha divagação à solta (e também divulgação) de poetas portugueses, lembro hoje Miguel Torga. 
Digo lembro, porque efetivamente não é minha intenção alargar a "divagação e divulgação" às extensas obras de cada autor.
Apenas os evoco, pouco mais do que escrevendo os seus nomes e partilhando algumas palavras de entre as muitas que escreveram. 
Para um conhecimento maior, há que pesquisar a vida e obra de cada um. Ler e reler alguns dos seus livros.
Mas isso fica ao critério do estimado leitor.


Fiquem bem,



quinta-feira, novembro 28, 2019

Eu mesmo no meu blog


Do meu último livro de poemas "De Dentro de Nós", publico hoje dois poemas eleitos pela minha filha como sendo os seus preferidos (entre muitos outros claro)
Espero que gostem. 




Inerte bonita quieta



Olho os seres que passam

Ligeiros ou lentos

Diversos

Dir-se-ia que olho sem cessar

Tudo o que mexe e remexe

Tudo o que gira na vertigem

De um olhar

Chego de mim para mim

A questionar

Porque fixo as pessoas

As coisas a passar

Que têm elas para me dar

Se no mesmo segundo aparecem

E desaparecem do olhar?

E tanta coisa inerte

Bonita quieta

À mão de semear...

E eu distraído sempre

Com o que mexe e remexe

Sem lhe ligar.


Laços de ternura



Suaves são os laços que nos prendem

Nas curvas da vida sinuosas

Seguram-nos sem magoar e tendem

A ficar belas memórias amorosas



Um tempo tantas vezes de desânimo

Feridas que aparecem no caminho

Como por milagre chega o ânimo

Vindo à nossa beira de mansinho



Uma mão um olhar um sonho

Um sorriso que nos faz tão bem

Qual bálsamo em tempo tão medonho



Assim se criam laços de ternura

Amor sem rótulo sem idade

Sem nó ou amarra e que perdura.

In "De Dentro de Nós", António Esperança Pereira



Fiquem bem,

segunda-feira, novembro 25, 2019

Marquesa de Alorna, no blog

Marquesa de Alorna


Portugal
1750 // 1839
Poeta/Pedagoga


Sonho



Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,
Quebraste-me o coração.

Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!

Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.

Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...

Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.

Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.

Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas! 

Como Está Sereno o Céu

Como está sereno o céu,
como sobe mansamente
a Lua resplandecente
e esclarece este jardim!

Os ventos adormeceram;
das frescas águas do rio
interrompe o murmúrio
de longe o som de um clarim.

Acordam minhas ideias,
que abrangem a Natureza;
e esta nocturna beleza
vem meu estro incendiar.

Mas, se à lira lanço a mão,
apagadas esperanças
me apontam cruéis lembranças,
e choro em vez de cantar.

Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'

quarta-feira, novembro 20, 2019

Augusto Gil, um poeta também da Guarda, no blog


Nasceu a 31 Julho 1873
(Lordelo, Portugal)

Morreu em 1929

Augusto César Ferreira Gil advogado e poeta português, viveu praticamente toda a sua vida na Cidade da Guarda onde colaborou e dirigiu alguns jornais locais.


Nesta minha viagem por alguns dos poetas portugueses, calhou hoje a vez a Augusto Gil. Escolhi-o particularmente por três razões: 
1º- Por ter vivido uma grande parte da sua vida na cidade da Guarda, distrito onde nasci, estudei e vivi também.
2º- Por ter sido um dos primeiros poetas que chegou ao meu conhecimento:
-Colégio de Pinhel, 1.º de Dezembro/1957, comemorava-se o Dia da Restauração da Independência de Portugal. Eu com 11 anos apenas, uma menina da minha idade, com cadência poética e graciosidade também, dizia o poema que deixo abaixo. Nunca mais haveria de esquecer o poema nem o poeta. 
Okay, a menina também não😊
3º- Por ser uma época de frio e, por isso mesmo, me lembrar muito em Lisboa, da neve da minha terra.

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.

Fiquem bem,

sábado, novembro 16, 2019

Bocage no blog: um dos maiores sonetistas portugueses

Seguem-se algumas palavras da Wikipedia, onde muitas palavras mais se podem encontrar sobre o Poeta.
É dos maiores sonetistas portugueses. Pessoalmente gosto muito da sua poesia. Transcrevo abaixo três sonetos do autor.
Ao lê-los, fica quase impossível não se gostar dele. E como a Língua Portuguesa é linda e musical!!!
Boas leituras.

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de setembro de 1765Lisboa, Mercês, 22 de dezembro de 1805) foi um poeta nacional português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.[1] Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.[2] Era primo em segundo grau do zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage.

Nascemos para Amar


Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Bocage, in 'Sonetos'

Camões, Grande Camões, quão Semelhante


Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

Bocage, in 'Rimas'

Meu Ser Evaporei na Luta Insana


Meu ser evaporei na luta insana
Do tropel de paixões que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quasi imortal a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos

Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

Bocage, in 'Rimas'

Continuação de um ótimo fim de semana.

quinta-feira, novembro 14, 2019

Antero de Quental, um cheirinho do sonetista apenas.

Antero de Quental foi um poeta e filósofo do Romantismo, considerado um dos maiores sonetistas portugueses. Com apenas 16 anos, ingressou em Direito e foi estudar em Coimbra onde se destacou com seu brilhantismo. Interessado pela política, filosofia e literatura, Antero em 1862, com 20 anos, publicou seus primeiros sonetos intitulados “Sonetos de Antero”. Junto aos poetas portugueses Luís de Camões e Bocage (um de seus amigos íntimos) formou a tríade dos maiores sonetistas portugueses.

A um poeta

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

Transcendentalismo

(A J. P. Oliveira Martins)
Já socega, depois de tanta lucta,
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrario do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...
Não é no vasto mundo — por immenso
Que ele pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...
Logos

(Ao Sr. D. Nicolau Salmeron)

Tu, que eu não vejo, e estás ao pé de mim
E, o que é mais, dentro de mim — que me rodeias
Com um nimbo de affectos e de ideas,
Que são o meu principio, meio e fim...

Que estranho ser és tu (se és ser) que assim
Me arrebatas comtigo e me passeias
Em regiões innominadas, cheias
De encanto e de pavor... de não e sim...

És um reflexo apenas da minha alma,
E em vez de te encarar com fronte calma,
Sobresalto-me ao ver-te, e tremo e exoro-te...

Falo-te, calas... calo, e vens attento...
És um pae, um irmão, e é um tormento
Ter-te a meu lado... és um tyranno, e adoro-te!

PS. Espero que apreciem estes sonetos de Antero de Quental, um dos maiores vultos das letras e da política portuguesas.


Fiquem bem,

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...