Nota breve do autor do Blog:
Publicava eu em 2014 o post que hoje copio. Era o tempo do Mundial de Futebol a acontecer no Brasil. Vale a pena rele-lo sobretudo pelo que, este ano, no Mundial da Rússia, aconteceu à Alemanha.
Afinal Miguel de Sousa Tavares não fala verdade!
Pasme-se só que a poderosa Alemanha, neste mundial, veio mais cedo para casa do que que por exemplo Portugal.
Quem diria?
Pelo que, se outro louvor não restasse aos "nossos rapazes", regressados de "rabo entre as pernas", já que o brilharete prometido se ficou pelo sonho, haveria que tirar-lhes o chapéu, pelo menos pelo feito de que fizeram melhor do que a Alemanha…e esta hein?
Nosso comentário:
Via e-mail recebi este excerto de um artigo do Miguel de Sousa Tavares, escritor português, jurista, também comentador e crítico, entre outras coisas.
Goste-se ou não se goste, Miguel de Sousa Tavares é daquelas personalidades que fala com a boca aberta. Quero eu dizer que quando diz qualquer coisa, ouve-se mesmo.
Normalmente muito polémico no que afirma, há por isso quem goste e quem não goste.
Neste excerto de artigo que hoje divulgo, chegado até mim via e-mail, o tema central do autor é a Alemanha.
Ora, quando se fala da Alemanha, por variadíssimos motivos que não vêm aqui para o caso, ficamos logo de olho e ouvido atento.
É o caso do texto abaixo que, sem concordar no que nele é dito, nem deixar de concordar, divulgo-o exactamente para fomentar o espírito crítico e polémico do que nele é afirmado.
Fiquem bem,
António Esperança Pereira
Excerto do artigo do Miguel Sousa Tavares...
Não é só no futebol que no fim ganham os alemães. É no
futebol, no atletismo, no automobilismo, no andebol, na equitação, no ski. É no
desporto, na música, na literatura, na arquitectura, na construção de carros,
de electrodomésticos, de máquinas industriais, etc, etc. Podemos gostar ou não,
podemos até desdenhar, mas a verdade é esta: no fim, ganham os alemães. E
ganham, porquê? Porque trabalham mais, porque se focam nos objectivos, porque
valorizam os resultados. Se alguém quiser entender por que razão a Alemanha
está farta dos países do sul da Europa, ponha-se na pele de um alemão. E
compare a selecção alemã, campeã do mundo, com, por exemplo, a portuguesa. A
selecção alemã que foi ao Brasil não tinha vedetas nem pequenas, nem médias,
nem grandes. Não se davam ares de vedetas, nem fora nem dentro do campo. Umas
vezes, esmagaram e fascinaram com o seu futebol de carrossel demolidor, outras
vezes — como na final — correram, lutaram, sofreram, sangraram e, no fim,
ganharam. Nenhum jogador quis dar nas vistas por outra razão que não fosse
jogar futebol. Ali não havia ninguém com tatuagens, com penteados ridículos,
com figurinos tipo Raul Meireles, com brincos nas orelhas, com pose de deuses
inacessíveis de auscultadores enfiados nos ouvidos, fingindo-se alheios a tudo
o que os rodeava, como se fossem superiores à gente comum. Não, os alemães
passaram pelo Brasil confraternizando, querendo ver e saber, curiosos e
contentes por ali estarem — tão diferentes dos nossos heróis do mar, fechados
para o mundo em hotéis-fortaleza, onde só entravam cabeleireiros, tatuadores e
agentes. Os alemães não passaram as conferências de imprensa a debitar lugares
comuns e frases feitas sem conteúdo, próprias de quem jamais foi visto com um
livro, uma revista ou um jornal na mão e passa os tempos livres a debitar
selfies e banalidades nas redes sociais, imaginando-se o contra do mundo. Os
alemães mandaram ao Brasil uma verdadeira embaixada, para servir o futebol e
honrar o seu país, enquanto nós mandámos um grupo de homens mimados e convencidos,
comandados por dirigentes que não lhes souberam exigir que estivessem, em todos
os aspectos, à altura da responsabilidade. Mas, como em tudo o resto que fazem,
os alemães também mandaram um grupo de jogadores que se portaram como
verdadeiros profissionais, que trabalharam e treinaram no duro, enquanto que
nós mandámos uma excursão de rapazes que se convenceram que os penteados e as
tatuagens, por si só, conseguem ganhar jogos ou então ficar na fotografia que
parece bastar-lhes. Não é por acaso que o campeonato alemão tem estádios cheios
e que o público dá por bem empregue o seu tempo e o seu dinheiro, enquanto que
o principal do nosso campeonato é jogado em estádios vazios e vivido sobretudo
nos programas televisivos dos dias seguintes, a discutir se foi bola na mão ou
mão na bola ou se a entrada de uma equipa em campo 2 minutos e 45 segundos
depois da hora marcada condicionou ou não decisivamente o resultado de outro
jogo. Nós discutimos, eles jogam. Nós tatuamos, eles treinam. Nós penteamos, eles
correm. Nós somos recebidos e pré-condecorados pelo Presidente antes de
começar, eles são apoiados na bancada pela chanceler quando chegam à final. Nós
somos heróis antes de partir, eles são vencedores depois de ganharem. Não é por
acaso que, desde que me lembro e tanto quanto me lembro, só dois jogadores
portugueses (Paulo Sousa e Petit) jogaram no campeonato alemão e só um jogador
alemão jogou no campeonato português (Enke). Não perguntem o que é que os
alemães têm. É toda uma sociedade fundada no trabalho, no mérito, na
responsabilidade, nos resultados. Goste-se ou não, isto não tem nada a ver com
o fado. É outra cultura, é outra coisa.>>
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