Vai menina estudante bem mostrada
capa e batina pastinha a tiracolo
tudo a preceito
direita importante
em grande centro comercial
Lisboa acompanhada
dos humildes pais desajeitados
provincianos
atrelados a sua excelência a filha modernaça
que para além da mesada
outros auxílios colaterais e bom sustento
muito suor para a trazerem tão lustrada
é ela afinal quem os conduz
ao lado atrás bem pequeninos
rendidos babados
por tanto talento mostrado pela "menina"
os antigos escravos iam mais direitos
menos vergados que estes pais babados
o quadro que contemplo
faz-me lembrar noutro contexto
outra história feminina de sucesso
a filha de um pai da minha terra
que até deixou de trabalhar
tanto era o dinheiro que ela lhe enviava
vestia bem e o homem pobre que era
trabalhador
deixou de o ser
bastava-lhe administrar
também gastar
o dinheirinho vindo da capital
remetido pela menina em vale postal
com ar bem chique
um salto alto arregaçado
e embrulhada em astracã
aparecia apenas pelo natal
era então que o pai tinha que cumprir
com boca aberta e língua de fora
acompanhando humildemente
aquela deusa que gerara um dia
ela lá em cima no primeiro andar
lustrosa oxigenada petulante
ele mais no rés do chão
fardado de fato e de gravata
para mostrar com galhardia
às gentes da terra
o quanto a família progredia
quarta-feira, outubro 31, 2007
quarta-feira, outubro 24, 2007
três partes em nós
Sinto o pescoço aliviado
e o rosto
com o ar entrando
enchendo os pulmões e tudo de ar
o próprio olhar em inspiração
se acende
como um farol
na direcção de terra céu e mar
fico completamente onde estou
enraizado
o que é sólido sustentado e dá paz
até os problemas mais complexos
perdem intensidade quando se assim está
ficam diluídos
bem longe bem fora deste corpo
que parece envolver-se recolher-se inteiramente
em luz e aura protegido
percebe-se perfeitamente neste respirar centrado
a separação que há
entre o estado de paz
interior
e a anormal agitação
exterior
percebe-se também claramente
que há três partes em nós
com entendimento diferente
a mente
inteligente e exigente
que agita flui com a razão
que ela própria escolhe e aplica
o espírito
que é luz distanciamento
uma paz profunda
que leva a tudo o que sai do perto
do comum entendimento
e o corpo
invenção maravilhosamente bela
forte
trave mestra resistente
que tudo suporta tudo sustenta
e o rosto
com o ar entrando
enchendo os pulmões e tudo de ar
o próprio olhar em inspiração
se acende
como um farol
na direcção de terra céu e mar
fico completamente onde estou
enraizado
o que é sólido sustentado e dá paz
até os problemas mais complexos
perdem intensidade quando se assim está
ficam diluídos
bem longe bem fora deste corpo
que parece envolver-se recolher-se inteiramente
em luz e aura protegido
percebe-se perfeitamente neste respirar centrado
a separação que há
entre o estado de paz
interior
e a anormal agitação
exterior
percebe-se também claramente
que há três partes em nós
com entendimento diferente
a mente
inteligente e exigente
que agita flui com a razão
que ela própria escolhe e aplica
o espírito
que é luz distanciamento
uma paz profunda
que leva a tudo o que sai do perto
do comum entendimento
e o corpo
invenção maravilhosamente bela
forte
trave mestra resistente
que tudo suporta tudo sustenta
sexta-feira, outubro 19, 2007
moda indiferença
Olho para ti sério circunspecto
céptico
porque já sei que não vais olhar
ainda esboço um gesto
qual impulso desejo de tocar
mas recuo
porque sei que vais rejeitar
e amuo
ah indiferença gelada
teatro da vida
sinto-te tão só como eu me sinto
tão carente de um olhar como eu me sinto
moda carapaça atrás de carapaça
personagem atrás de personagem
tarda encontrar-se a liberdade certa
porque nesta vida o que se sente é real
há que seguir o impulso que encoraje a gente
um impulso vital determinado
que tenha resposta do outro lado
até lá
até esse encontro com a liberdade certa
ao menos digam olá
empurrem-se olhem-se toquem-se
mas não matem o outro
deixando-o só
ficando só como ele
com tanta indiferença
porque matar o outro é matarmo-nos a nós
céptico
porque já sei que não vais olhar
ainda esboço um gesto
qual impulso desejo de tocar
mas recuo
porque sei que vais rejeitar
e amuo
ah indiferença gelada
teatro da vida
sinto-te tão só como eu me sinto
tão carente de um olhar como eu me sinto
moda carapaça atrás de carapaça
personagem atrás de personagem
tarda encontrar-se a liberdade certa
porque nesta vida o que se sente é real
há que seguir o impulso que encoraje a gente
um impulso vital determinado
que tenha resposta do outro lado
até lá
até esse encontro com a liberdade certa
ao menos digam olá
empurrem-se olhem-se toquem-se
mas não matem o outro
deixando-o só
ficando só como ele
com tanta indiferença
porque matar o outro é matarmo-nos a nós
terça-feira, outubro 16, 2007
holocausto em vez de amor

Porque é tão fácil de vender
ao telespectador
o holocausto o horror (?)
até se chama outra gente para ver
e partilhar
seja a guerra a acontecer
mesmo em directo
ou os efeitos dela com todo o pormenor
o fumo a morte
o justo e o injusto
a perecer
o barulho bombardeio
vida viva a sofrer e a morrer
um assalto à mão armada
uma criança violada
e aconchega-se a família
em frente ao televisor
"anda vem ver"
chama-se o filho a mulher
ou quem aparecer
se for amor pelo contrário
o que estiver a acontecer
tem que se esconder
alguém grita "proibido"
em gestos violentos repressão
um sem fim de ideias tontas
ciúme raiva rejeição
um "tira daí não podes ver"
humana faceta estranha
este prazer mórbido de consumir
gostar de ver
tanto sofrer
aceitam-se os horrores da violência
com facilidade
rejeitam-se os gestos mais simples
mais ingénuos
mais génesis descoberta
do amor
da felicidade
ao telespectador
o holocausto o horror (?)
até se chama outra gente para ver
e partilhar
seja a guerra a acontecer
mesmo em directo
ou os efeitos dela com todo o pormenor
o fumo a morte
o justo e o injusto
a perecer
o barulho bombardeio
vida viva a sofrer e a morrer
um assalto à mão armada
uma criança violada
e aconchega-se a família
em frente ao televisor
"anda vem ver"
chama-se o filho a mulher
ou quem aparecer
se for amor pelo contrário
o que estiver a acontecer
tem que se esconder
alguém grita "proibido"
em gestos violentos repressão
um sem fim de ideias tontas
ciúme raiva rejeição
um "tira daí não podes ver"
humana faceta estranha
este prazer mórbido de consumir
gostar de ver
tanto sofrer
aceitam-se os horrores da violência
com facilidade
rejeitam-se os gestos mais simples
mais ingénuos
mais génesis descoberta
do amor
da felicidade
partida e morte
A ti que querias partir
eu disse
fica
tu ouviste
e não quiseste ficar
a ti que partiste
eu disse
volta
tu ouviste
e não quiseste voltar
a ti hoje que morreste
eu não disse
fica
porque mesmo que quisesses
não poderias ficar
a ti hoje ao enterrar
eu não disse
volta
porque mesmo que quisesses
não poderias voltar
ai coração coração
tanta perda tanto dano
vida e morte lado a lado
neste engano desengano
eu disse
fica
tu ouviste
e não quiseste ficar
a ti que partiste
eu disse
volta
tu ouviste
e não quiseste voltar
a ti hoje que morreste
eu não disse
fica
porque mesmo que quisesses
não poderias ficar
a ti hoje ao enterrar
eu não disse
volta
porque mesmo que quisesses
não poderias voltar
ai coração coração
tanta perda tanto dano
vida e morte lado a lado
neste engano desengano
terça-feira, outubro 09, 2007
muralha ou abertura
Ter cuidado é bom
faz falta
defende-nos de tantas situações perigosas
vias e propostas sinuosas
mas pode levar a um excesso de zelo
de temor
que fecha o coração ao sentimento
ao amor
e entre ficar só com tanto medo
rodeado de altos muros preconceitos
muralha intransponível em degredo
e baixar um pouco a ponte levadiça
abrir a porta forte isolamento
ao "inimigo" forasteiro
porque não avaliar primeiro
se as setas que ele mostra
são de veneno ou de cupido
depois sim
ou ter cuidado
fechar as portas
e preparar a guerra
ou abrir à novidade
quem sabe uma aliança
um novo sentido
para uma vida de exclusão sempre fechada
faz falta
defende-nos de tantas situações perigosas
vias e propostas sinuosas
mas pode levar a um excesso de zelo
de temor
que fecha o coração ao sentimento
ao amor
e entre ficar só com tanto medo
rodeado de altos muros preconceitos
muralha intransponível em degredo
e baixar um pouco a ponte levadiça
abrir a porta forte isolamento
ao "inimigo" forasteiro
porque não avaliar primeiro
se as setas que ele mostra
são de veneno ou de cupido
depois sim
ou ter cuidado
fechar as portas
e preparar a guerra
ou abrir à novidade
quem sabe uma aliança
um novo sentido
para uma vida de exclusão sempre fechada
o tempo a bruma
O tempo esconde a espaços
o horizonte
de toda a recordação
tal como a bruma
o faz com a paisagem
que só deixa voltar a ver
quando levanta
o tempo é como a bruma
esconde arrefece
torna invisível o que está lá
mas há uma coisa
que nem tempo nem bruma
nem coisa nenhuma
pode apagar
a alma da gente
que quando se encontra
quando se quer
quando se entende
quando se dá
fica junto eternamente
o horizonte
de toda a recordação
tal como a bruma
o faz com a paisagem
que só deixa voltar a ver
quando levanta
o tempo é como a bruma
esconde arrefece
torna invisível o que está lá
mas há uma coisa
que nem tempo nem bruma
nem coisa nenhuma
pode apagar
a alma da gente
que quando se encontra
quando se quer
quando se entende
quando se dá
fica junto eternamente
segunda-feira, outubro 08, 2007
o amor dos elementos
Estou aqui
lugar de mais ninguém
com ruídos exteriores
ruídos interiores
numa história hoje por cumprir
o tempo que passou por mim
tem um aspecto de fogo
que ardeu
de rio que correu
como as cinzas que ficam das árvores queimadas
como o leito do rio
seco por falta de chuva
mas a história continua
aqui mesmo neste instante
estou no sítio a jusante
onde a água nunca falta
mais que isso
sou um sítio poupado
à seca ao fogo
pelo amor dos elementos
lugar de mais ninguém
com ruídos exteriores
ruídos interiores
numa história hoje por cumprir
o tempo que passou por mim
tem um aspecto de fogo
que ardeu
de rio que correu
como as cinzas que ficam das árvores queimadas
como o leito do rio
seco por falta de chuva
mas a história continua
aqui mesmo neste instante
estou no sítio a jusante
onde a água nunca falta
mais que isso
sou um sítio poupado
à seca ao fogo
pelo amor dos elementos
anjos música
O anjo certo na música certa
o momento bom
o céu numa luz ténue
de fim de tarde
num recanto aconchegado
de uma casa interior
azul celeste
com trepadeiras finas acetinadas
uma dança de anjos
leve suave interminável
um entendimento perfeito
lânguido e doce
um momento único
gravado na memória
do tempo
dois corpos com asas
voando
ontem agora sempre
nas notas musicais
sem ruído
o momento bom
o céu numa luz ténue
de fim de tarde
num recanto aconchegado
de uma casa interior
azul celeste
com trepadeiras finas acetinadas
uma dança de anjos
leve suave interminável
um entendimento perfeito
lânguido e doce
um momento único
gravado na memória
do tempo
dois corpos com asas
voando
ontem agora sempre
nas notas musicais
sem ruído
metáfora do prisioneiro
A chave da vida está
em não ficar-se prisioneiro
muito menos torturado
porque a tortura dói
dá mesmo cabo da gente
e a repetição da violência
pelos guardas prisionais
carcereiros outros que tais
com a voz o olhar o passo
vigiados controlados
em pouco espaço
enfraquecem
trazem cansaço
a liberdade é lá fora
todo o prisioneiro sabe isso
mas tem que sentir-se dentro
primeiro
depois é só abraçá-la
e substituir a clausura
por um imenso paraíso
bem longe do carcereiro
em não ficar-se prisioneiro
muito menos torturado
porque a tortura dói
dá mesmo cabo da gente
e a repetição da violência
pelos guardas prisionais
carcereiros outros que tais
com a voz o olhar o passo
vigiados controlados
em pouco espaço
enfraquecem
trazem cansaço
a liberdade é lá fora
todo o prisioneiro sabe isso
mas tem que sentir-se dentro
primeiro
depois é só abraçá-la
e substituir a clausura
por um imenso paraíso
bem longe do carcereiro
domingo, outubro 07, 2007
amor e percentagem
É fácil de falar
é fácil de escrever
dizer que o sofrimento
se deve à percentagem
exagerada
que se põe no que se ama
num homem
numa mulher
numa criança
numa causa
se fosse verdade
(só uma questão de percentagem)
era só dizê-lo à sociedade
e ensiná-lo a quem ama
tirava-se então
um pouco de coração
à namorada ao filho ao amante
ao amigo
a um qualquer dogma
e não se matava
nem se morria todos os dias
por tanta entrega
à tal percentagem coração exagerada
mas será que o coração quando ama assim
cem por cento apaixonado
tem atenção
nem que seja um bocadinho
para ligar às percentagens racionais de que falamos?
é fácil de escrever
dizer que o sofrimento
se deve à percentagem
exagerada
que se põe no que se ama
num homem
numa mulher
numa criança
numa causa
se fosse verdade
(só uma questão de percentagem)
era só dizê-lo à sociedade
e ensiná-lo a quem ama
tirava-se então
um pouco de coração
à namorada ao filho ao amante
ao amigo
a um qualquer dogma
e não se matava
nem se morria todos os dias
por tanta entrega
à tal percentagem coração exagerada
mas será que o coração quando ama assim
cem por cento apaixonado
tem atenção
nem que seja um bocadinho
para ligar às percentagens racionais de que falamos?
sábado, outubro 06, 2007
euro em vez de escudo
Pela primeira vez
ao receber uma factura em euros
eu português entendi
que um ciclo terminava
senti mais e mais morrer os meus avós
meus pais
se é para bem de todos nós
que seja
mas como vou contar aos filhos
e aos netos
as minhas tropelias
o desviar necessário de uns tostões
para pequenos vícios desnecessários
do bolso de meus pais
e explicar que dez tostões
poupados no autocarro
podiam virar poupança útil
ou contar
que ir de Lisboa à Beira-alta
no combóio correio
em vez de ir no sud express
eram cinemas no mealheiro
bolos livros chocolates
é assim como quem fala português
e de repente
se põe a falar russo ou chinês
mas se é melhor assim que seja
só receio
que tantas histórias nossas fiquem por contar
não fico contente
e devia ficar
gentes de Portugal
se depois de novecentos anos
chegámos aqui
não vamos desanimar
que treta
os espanhóis também perdem a peseta
vamos pois continuar
ao receber uma factura em euros
eu português entendi
que um ciclo terminava
senti mais e mais morrer os meus avós
meus pais
se é para bem de todos nós
que seja
mas como vou contar aos filhos
e aos netos
as minhas tropelias
o desviar necessário de uns tostões
para pequenos vícios desnecessários
do bolso de meus pais
e explicar que dez tostões
poupados no autocarro
podiam virar poupança útil
ou contar
que ir de Lisboa à Beira-alta
no combóio correio
em vez de ir no sud express
eram cinemas no mealheiro
bolos livros chocolates
é assim como quem fala português
e de repente
se põe a falar russo ou chinês
mas se é melhor assim que seja
só receio
que tantas histórias nossas fiquem por contar
não fico contente
e devia ficar
gentes de Portugal
se depois de novecentos anos
chegámos aqui
não vamos desanimar
que treta
os espanhóis também perdem a peseta
vamos pois continuar
aridez
Quanto mais escrevo
mais aprendo
que se é duro
semear o trigo
ou carregar tijolos
ou moldar o vidro
mais duro é semear flor
e colher cardos
ou plantar amor
onde só há pedras
numa nesga de leira
por lavrar
em terra agreste
mais aprendo
que se é duro
semear o trigo
ou carregar tijolos
ou moldar o vidro
mais duro é semear flor
e colher cardos
ou plantar amor
onde só há pedras
numa nesga de leira
por lavrar
em terra agreste
as palavras e o que significam
Será que as palavras se agarram ao que
significam
são ou não são bonitas
conforme a mensagem que transmitem?!
o mar é mar e a palavra é linda
porque gostamos do mar
e céu também
e mãe
e flor
e amor
se estas palavras invertessem o sentido
se por exemplo
"odeio diabo morte negra"
quisessem dizer
"amo mãe vida jardim"
odeio
diabo
morte
negra
deixariam de ser palavras feias
e passariam então
a ser bonitas?
significam
são ou não são bonitas
conforme a mensagem que transmitem?!
o mar é mar e a palavra é linda
porque gostamos do mar
e céu também
e mãe
e flor
e amor
se estas palavras invertessem o sentido
se por exemplo
"odeio diabo morte negra"
quisessem dizer
"amo mãe vida jardim"
odeio
diabo
morte
negra
deixariam de ser palavras feias
e passariam então
a ser bonitas?
se eu pudesse adivinhar
Se eu pudesse adivinhar
que as tuas mãos me queriam
estendia-te as minhas
se eu pudesse adivinhar
que o teu coração me queria
abria-te o meu
se eu pudesse adivinhar
que querias ser minha
eu seria teu
que as tuas mãos me queriam
estendia-te as minhas
se eu pudesse adivinhar
que o teu coração me queria
abria-te o meu
se eu pudesse adivinhar
que querias ser minha
eu seria teu
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Publicação em destaque
Livro "Mais poemas que vos deixo"
Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...

-
É um dispositivo médico muito fácil de usar. Depois dos 40 anos tem mesmo de começar a ter mais cuidado com a saúde. Amir Khan, um médico,...
-
Gabriel Attal (AP) © CNN Portugal O primeiro-ministro francês, Gabriel, afirmou esta terça-feira à Lusa que “é muito importante” que os lu...
-
Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...