terça-feira, janeiro 10, 2006

menina de Valbom


a dois passos de Pinhel cidade tu nascias
num sítio de vinhas sementeiras
roseiras bravas silvas com amoras
veredas campestres
cantares de romarias
muitos prados ao redor de uma ribeira
num casario pequeno
Valbom assim se chamava o casario
tu eras linda
sobretudo o olhar gaiato
que no colégio dava para tirar a vontade de estudar
diria que foste o meu primeiro caso sério
a minha vontade de crescer
a minha ilusão bonita
a minha primeira necessidade de escrever
vê só que foram para ti as minhas primeiras cartas
(três)
e a nenhuma respondeste
ainda bem
não tinha arcaboiço para ti
faltavam-me anos
e acabaste por ficar na minha vida
com um lugar que ninguém tem
um mito
serás seiva e flor
sempre
pedras e rio
sementeira
olhos que me viram
de sacola
que me ensinaram a amar
e a crescer
trabalhavas em Lisboa no mesmo prédio que eu
quando a doença foi mais forte
e te levou
raios
que revolta
que tristeza triste que senti
que impotência e que dor
nasceste assim para eu te ver
viveste
e voltaste mesmo no fim
para que os meus olhos te vissem
desaparecer
se onde estás puderes ler estes versos
(penso que não)
mas se puderes
menina de Valbom
não digas nada
não escrevas
não chores nem me faças chorar
deixa só o teu olhar
num qualquer lugar
a fazer brilhar o meu

amanhecer tardio

o amor é quem nos leva
para onde seria impossível ir
não conta a distância o estado do tempo
a cama
o sítio
nada existe que não possa ser adiado
esquecido
e nos impeça de partir
levei tempo a acreditar nisto
com padrões de inocência que trazia
exemplos de triunfo dignidade
contenção
acreditava
que o dever o esforço o querer
a própria imitação
me levariam
aonde só nos pode levar o coração
acreditei que podia ser assim
e o mundo que criei
parecia ter futuro
mesmo quando eu já tivesse pouco
foi então que parei e me dei conta
que mais importante que fábricas
armazéns
casas recheadas de valores
relações importantes (também ocas)
o mais importante mesmo
é ter alguém que faça pulsar o coração
que só por estar perto
faça com que tudo pareça leve
e bom
e fácil
neste deserto
o resto não conta
porque tudo acontece como um bater de asas

dia dos namorados

chamar-te mulher
amiga
companheira
chamar-te mãe
Lisboa Tejo
um porto
uma cais
chamar-te meiga
terna
doce
porta aberta
chamar-te simplesmente
coração
ou barco
ou dizer que o teu abraço
tem assim o tamanho do mundo
é sempre pouco
que ondas me levaram até ti
que rios
que caminhos
que sorte tanta
eu navegava num deserto
sem barco sem remos
pior sem rumo
tu apareceste e foste a ponte
o caminho certo
olho para trás
e quando penso
que um qualquer piquenique
que nem estava para acontecer
aconteceu
e me deu tanto
só posso repetir vezes sem conta
Sintra meu amor
cumpriu-se vida
Rossio
Lisboa
namorada mulher
mãe dos meus filhos
não terei tempo
para agradecer tanto

Publicação em destaque

Livro "Mais poemas que vos deixo"

Breve comentário: Escrevo hoje apenas meia dúzia de palavras para partilhar a notícia com os estimados leitores do blogue, espalhados ...