“Há uns tempos participei num Conselho de Transportes da União Europeia, onde o grande debate era o tema dos comboios noturnos. A minha intervenção nessa matéria é que Portugal tem outra prioridade: ter comboios. Depois, discutiremos se eles também devem ser noturnos. Como estamos um pouco mais atrasados, a prioridade de Portugal é acelerar e cobrir o terreno perdido no passado. Os comboios noturnos são problemas de países que já têm muitos comboios a funcionar“, respondeu o ministro. “O nosso foco é ter [novos] comboios e acelerar [as obras] nos corredores internacionais Sul e Norte, além da alta velocidade”, acrescentou.
Os comboios noturnos a partir de Portugal deixaram de circular em 17 de março de 2020. A pandemia levou ao fecho das fronteiras e levou à suspensão do serviço. A Covid-19 já nem sequer é considerada uma pandemia, mas nunca mais voltaram a funcionar os comboios Lusitânia (para Madrid, em Espanha) e Sud Expresso (para Hendaye, em França).
O Lusitânia era explorado, em conjunto, pela CP e pela Renfe e gerava prejuízos anuais de dois milhões de euros. O Sud Expresso seguia em conjunto com o Lusitânia Comboio Hotel até Medina del Campo, já em Espanha. No Sud Expresso, a CP alugava as carruagens à fabricante Talgo e tinha perdas anuais de três milhões de euros.
Lisboa era o ponto de partida dos comboios noturnos, pelas 22 horas. O serviço também podia ser utilizado pelos moradores do Entroncamento, Caxarias, Pombal, Coimbra, Santa Comba Dão, Mangualde, Celorico da Beira, Guarda e Vilar Formoso.
João Galamba alega que “do lado de Espanha não há interesse em retomar o comboio noturno pela falta de procura que tem”. No entanto, não faltam passageiros para a rota entre Lisboa e Madrid: para quinta-feira, só de avião, estão marcadas 18 viagens entre as duas capitais ibéricas, entre as 6h35 e as 22 horas.
Em relação ao comboio noturno para França, o secretário de Estado das Infraestruturas assume que há “alguns cenários em que seria eventualmente possível retomar este serviço num modelo operacional diferente com financiamento equilibrado”. No entanto, Frederico Francisco justifica que a CP “tem como prioridade recuperar as carruagens Arco”, compradas em junho de 2020 à Renfe, e teria de alugar uma locomotiva para rebocar as composições.
Embora haja vontade por parte do secretário de Estado, não foi apresentado qualquer prazo para voltar a haver um comboio direto entre Lisboa e Madrid. Até lá, quem quiser viajar de comboio entre as duas capitais ibéricas tem de apanhar três comboios durante o dia e preparar-se para nove horas e 30 minutos de viagem. Até quem optar pelo autocarro irá demorar menos tempo neste percurso.
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Textos dispersos do EU II | António Esperança Pereira - Bubok